Depois de abordar sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) para descrição de cargos, agora entro numa questão mais polêmica: o uso da IA para pesquisa salarial. A princípio, a ferramenta pode ser utilizada em duas hipóteses:

Análise de Dados: A IA pode ser usada para analisar grandes conjuntos de dados de salários, coletados de fontes como sites de empregos, empresas de recrutamento, pesquisas de mercado e bancos de dados de recursos humanos. Algoritmos de aprendizado de máquina podem ser aplicados para extrair insights úteis desses dados, como médias salariais, faixas salariais, tendências de mercado e disparidades salariais em diferentes setores, localizações geográficas e níveis de experiência.

Modelagem Preditiva: Com base nos dados históricos de salários e outros fatores relevantes, como qualificações educacionais, experiência profissional e localização, modelos de IA podem ser desenvolvidos para prever os salários esperados para diferentes tipos de cargos e profissionais. Isso pode ajudar os empregadores a definir faixas salariais competitivas e os candidatos a terem uma ideia mais clara do que esperar em termos de remuneração.

No entanto, é importante observar que a qualidade dos resultados obtidos depende da qualidade dos dados utilizados e da precisão dos algoritmos de IA empregados e do tratamento estatístico correto. Além disso, é essencial considerar questões éticas, como a privacidade dos dados dos trabalhadores e a possibilidade de viés nos algoritmos, ao realizar uma pesquisa salarial utilizando inteligência artificial.

Não recomendamos o uso de guias salariais de empresas de headhunters, comumente publicados na internet e nem o uso de plataformas digitais como Glassdoor, Payscale, LinkedIn Salary, Indeed e Comparably, para citar alguns exemplos, haja vista que não existe o devido cuidado estatístico que preza a realização de uma boa pesquisa salarial.

Isso porque, em vez de coletar e analisar dados de salários individuais, esses guias e plataformas podem usar técnicas de agregação de dados, o que envolve agrupar os dados em faixas salariais amplas, em vez de divulgar informações específicas sobre indivíduos.

Ainda é importante destacar que as organizações que realizam pesquisas salariais utilizando Inteligência Artificial devem ser transparentes sobre suas práticas de coleta e análise de dados e assumir a responsabilidade pela proteção da privacidade dos indivíduos. Isso inclui a divulgação clara das políticas de privacidade e a prestação de contas em caso de violações de dados. Ao adotar essas práticas e medidas de proteção da privacidade, é possível realizar uma pesquisa salarial usando IA de forma ética e responsável, garantindo ao mesmo tempo a confidencialidade dos dados.

Por mais que a tecnologia seja bem-vinda para auxiliar nos processos operacionais, em especial, os cálculos e definição de parâmetros para a pesquisa salarial, o ideal ainda é contar com o apoio de uma consultoria especializada que possa trazer metodologias e insights de grande importância, além da expertise necessária para garantir que a política de cargos e salários seja definida da forma correta.

*Mateus de Oliveira é sócio-diretor da RHPLUS Cia da Remuneração. Acesse o currículo dele aqui.

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